sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Jornalismo científico e a democratização do conhecimento

Caros colegas, segue abaixo techo da entrevista realizada pelo portal Imprensa com o jornalista Francisco Bicudo sobre a função do jornalismo científico em democratizar o conhecimento por meio de uma educaçao, a qual ele denomina de "alfabetização científica". Ele se formou em 1994 pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e mestre em Ciências da Comunicação pela mesma instituiçã, atua na área há quase 18 anos. "Metade de uma vida", ressalta. Também professor de jornalismo, ele acredita que a ciência "faz avançar sociedades" e deve se tornar acessível à população através do que ele chama de "alfabetização científica", em que os cidadãos devem ter acesso às informações para conhecer os conceitos científicos e compreender as transformações que as descobertas da ciência trazem na prática. Bicudo teve contato mais próximo com essa área depois de passar pela assessoria do Instituto da Criança (1998-1999), ala pediátrica do Hospital das Clínicas. Atualmente, colabora com a revista Pesquisa Fapesp e com o site Sindicato dos Professores e falou ao Portal IMPRENSA sobre a importância desse tipo de jornalismo para a sociedade. Portal IMPRENSA: Como começou a sua trajetória no Jornalismo Científico? Francisco Bicudo: Sempre fui um apaixonado pelas descobertas que a Ciência nos proporciona e pelas histórias que é capaz de nos contar, auxiliando na compreensão dos fenômenos da natureza e ajudando a fazer avançar as sociedades, com benefícios coletivos diversos, pelo menos potencialmente. Portanto, acho que foi uma trajetória natural. Minha primeira passagem pelo Sindicato dos Professores (1992-1998) foi fundamental, travei contato com uma efetiva e sincera preocupação com a educação como instrumento de autonomia e libertação. Em 2002, iniciei minhas colaborações com a revista Pesquisa Fapesp, sempre como repórter, e me lembro com muito carinho da primeira matéria que publiquei - um estudo feito por pesquisadores da USP que analisava o diâmetro do Sol. Foi difícil, deu um trabalhão, escrevi o texto três vezes, até conseguir chegar a um resultado bacana, mas valeu a pena e foi extremamente gratificante. IMPRENSA: Quais os principais fundamentos do Jornalismo Científico? Bicudo: O jornalismo científico deve ser capaz de traduzir, contextualizar e interpretar para a sociedade a beleza e a importância do mundo da ciência e da tecnologia. Sua função, portanto, é democratizar conhecimento, nessa área específica, trabalhando com a idéia da alfabetização científica e fazendo da ciência um tema presente nos nossos debates cotidianos. Para participar dessas discussões, a sociedade precisa estar bem informada. Isso envolve conhecer os conceitos científicos, o processo de produção e desenvolvimento da ciência e os impactos sociais das descobertas e novidades, sem perder pé da dimensão ética. IMPRENSA: Como você avalia a cobertura dos cadernos de Ciência nos jornais, revistas e canais de TV brasileiros? Bicudo: Considero o momento bastante interessante, pois, embora ainda não seja o cenário ideal e muito ainda tenhamos que caminhar e avançar, avalio que há uma percepção cada vez mais clara e contundente, por parte dos veículos jornalísticos, da importância do tema para a agenda pública da sociedade. Dessa forma, além de ganhar espaço em jornais e revistas, o jornalismo científico tem se consolidado na televisão, em rádio e na internet, chegando inclusive a marcar presença em blogs. IMPRENSA: Na recente polêmica em torno das pesquisas com células-tronco, por exemplo, você acha que a mídia conseguiu elucidar a população a respeito do que estava acontecendo? Bicudo: Acho que houve avanços e de certa forma a discussão acabou chegando ao grande público. Os argumentos dos cientistas e dos grupos religiosos também foram identificados e apresentados. Acho, no entanto, que esse debate, extremamente importante, demorou muito tempo para chegar ao noticiário. Confesso também que fico um pouco incomodado com um certo maniqueísmo que parece ser a marca do jornalismo em muitas coberturas - a idéia dos "pró e dos contra". Não sei se o mundo, tão complexo, pode ser dividido dessa forma tão simplista. IMPRENSA: Existe, no Brasil, alguém que você possa apontar como referência no Jornalismo Científico? Bicudo: O jornalista Marcelo Leite, colunista da Folha e atualmente com um blog, é uma excelente referência de jornalismo científico feito com qualidade, seriedade e responsabilidade ética. IMPRENSA: É possível fazer um paralelo entre o jornalismo científico e o econômico, haja vista a dificuldade que existe em levar a informação de forma clara ao leitor? Bicudo: Se pensarmos na exigência das explicações e na linguagem, na importância e no impacto que as duas áreas têm em nosso cotidiano, podemos pensar em analogias; no entanto, vale lembrar que são áreas e especialidades bastante diferentes, com peculiaridades e singularidades que precisam ser consideradas e respeitadas. Além disso, o econômico certamente ocupa um espaço muito maior que o científico. IMPRENSA: Em relação ao mercado de trabalho, há muita procura por profissionais especializados? Bicudo: Com a consolidação dessa área de atuação e a abertura de vagas nos diversos veículos, a tendência é que essa busca se amplie, já que é preciso investir em profissionais bem formados e que conheçam o segmento. IMPRENSA: Como professor, você nota que os alunos estão mais interessados pelo tema? Quais são as principais características necessárias ao profissional que deseja se especializar nesta área? Bicudo: Quando a ciência é revelada como algo que faz parte do nosso cotidiano, como possibilidade de avanços sociais, como uma forma de conhecimento diretamente ligada à idéia do bem-estar coletivo, conseguimos atrair a atenção dos alunos. O importante é incentivar o espírito crítico, a curiosidade, o gosto pelo conhecimento e pela descoberta, a disposição para ouvir detalhes de estudos e pesquisas, a preocupação em estabelecer relações e conexões, a paciência para apurar e pesquisar com cautela, serenidade e profundidade e a vontade para procurar a melhor forma de contar as histórias, lembrando sempre que não se pode deixar de lado os princípios éticos que norteiam a profissão e que a razão final de ser de todo esse nosso trabalho é o público/cidadão.

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